Baruch, um bálsamo para dias de angústia dos nossos tempos

“Naquele domingo de fevereiro, fazia ainda mais frio do que o habitual. Depois de ser assaltado por um novo ataque de tosse, Bento afastou a manta e pôs-se de pé”, diz o texto do escritor português José Rodrigues dos Santos, que releio. Não se refere o autor ao atordoado Bentinho machadiano nem àquele alemão que adotou a alcunha de abençoado, mas, dizendo-se cansado, deixou pra lá o papado para viver em retiro. Na  abertura do vigésimo nono e penúltimo capítulo do belo livro “O segredo de Espinosa”,  Santos  trata de Baruch, palavra hebraica para bendito, Espinosa, o filósofo filho de judeus portugueses, que viveu em Amsterdã no  Século 17. 

Baruch (Bento) Espinosa  escreveu, entre outras obras, “Ética” e “O Tratado Teológico-Político”,  livros que influenciaram o britânico Thomas Hobbes e o alemão Gottfried Leibniz, por exemplo, e, mais tarde, até Karl Marx, outro alemão, em suas ideias em busca de mudanças sociais. Albert Einstein, o físico judeu, também alemão, era outro fascinado por Espinosa, destacados aqui no post "A história de Bento português"

Bentinho, como era chamado pelo pai, Miguel de Espinosa, teve vida curta, mas altamente produtiva e relevante para o pensamento. Nasceu em 1622 e morreu em 1677. Deixou um legado que por séculos desafiaram e orientaram atormentados pelas injustiças do cotidiano. Baruch, um revolucionário do pensamento, quebrou a tradição que marcava a compreensão do mundo a partir da religião e abriu a porta para o surgimento de ideologias que se formaram nos séculos seguintes, algumas erradamente baseadas na intolerância e no ódio, como lembra o escritor Santos. Reler a história deste filósofo é sempre uma lição - e um bálsamo.

Imagens preservadas de anjos com marcas de balas disparadas por armas de nazistas em igreja de Milão / Foto: Pablo Pereira / julho de 2023