Reler Machado, escritor e jornalista, é colecionar colares de pérolas...
- Pablo Pereira
- há 3 dias
- 2 min de leitura
Atualizado: há 14 horas
Como diria um colega de labuta jornalística, Daniel, machadista convicto, ler e reler o homem do Cosme Velho é uma obrigação para uns e um deleite para outros. Ambos os leitores, porém, sabem que nunca mais serão os mesmos principalmente depois da experiência nos livros de Joaquim Maria Machado de Assis (1839 -1908). O simples ato da releitura, e da leitura da releitura, leva à mudança individual imediata e ao crescente amor pela coisa. Ensinam os filósofos que a pessoa que era uma, segundos depois será outra. Talvez por isso tive variadas impressões, todas prazerosas, em cada uma das nove vezes que assisti ao Cinema Paradiso, do Tornatore. Já não era o mesmo da primeira vez; eu era outros... A leitura de Machado é assim.
Já disse neste espaço que a sensibilidade dos escritos machadianos é pérola. Seu defunto Brás Cubas, por exemplo, não gostava de pérolas, palavra que uso para definir a raridade dos prazeres. Mas a afirmação do personagem era mesmo só uma casmurrice para tentar fugir de um assédio casamenteiro, já que morreu solteiro. No mundo das letras, Machado tem, sim, argumentos literários de parecença com a brilhante síntese natural da estranheza, como a transformação do grão de areia invasor das entranhas da conchas. Machado altera rumos, remete ao pensamento filosófico, fornece luz e alimenta ganhos de potência, aquilo que Espinosa chamava de Alegria; Ou seja, mexe e alegra nos nossos "eus".
Como em sua época o contato do alfabeto e suas combinações com o papel em branco estava na raiz da inteligência, uma vez que o mundo das imagens ainda engatinhava no ofício de encurtar o tempo e resumir argumentos, o mergulho na leitura também era, aliás, como como hoje, mais do que necessário para pensar e criar. Daí que nos textos machadianos encontra-se sempre referências a livros e jornais. "No dia seguinte recebeu um jornal que nunca vira antes, a Atalaia. O artigo editorial desancava o Ministério", conta o autor, relatando a história de uma boa ação de Rubião, o protetor do cão Quincas Borba, que reli semana passada. Viria Machado a publicar em jornal sua visão do mundo também em coluna de crônicas - tão oportunamente reunidas em livros pelo também machadista britânico John Gledson. Um colar de pérolas...

Comments