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No berço das tartarugas, a alegria da natureza no meio do Atlântico

  • Pablo Pereira
  • 6 de mai.
  • 2 min de leitura

Atualizado: 7 de mai.

O jornalismo sempre foi uma paixão particular e muito especial. Por meio desta rica profissão, levado por ela, conheci mundos inesquecíveis, vivi momentos raros, cresci como gente e - conforme Espinosa, como ensina o professor Clóvis de Barros Filho - melhorei a minha potência de agir acumulando alegrias. Um destes sublimes momentos foi a oportunidade de estar nas areias que são berçário de tartarugas gigantes na Ilha de Trindade, um arquipélago brasileiro existente no Oceano Atlântico, mais de mil quilômetros da costa do Espírito Santo, no caminho da África.


É lá que esses animais maravilhosos saem das águas límpidas do mar preservado, arrastam-se penosamente pelas praias desertas e vão, às dezenas, transformar as areias quentes do verão em vastas chocadeiras naturais. É um espetáculo encantador e único. É a natureza em estado bruto, cultuada por biólogos que fazem do local um campo de estudos da vida marinha. Já tem alguns anos, foi convidado, por intermédio do meu grande e saudoso amigo e colega, Roberto Godoy, para uma viagem, que ele sugeriu e planejou. Um acontecimento desafiador: três dias de navio, só na ida. O resultado ilustrou reportagem especial, com imagens do grande Wilton Junior, publicada do Estadão, o jornal para o qual o craque Godoy dedicou mais de 50 anos de sua vida profissional.


Lembrei muito dele quando ainda estava na ilha com tartatugas enormes cavando seus ninhos, diante de mim, em noites e madrugadas de novembro. Haverá, certamente, outras descrições de visitas humanas àqueles momentos da luta das mamães tartaruga. Mas nunca haverá nada igual ao que vivi observando, sob luz de lanternas, de pertinho, as estupendas criaturas desovando no escuro e, por puro instinto, enterrando dezenas desses ovos para protegê-los do ataque de predadores - aves e caranguejos. Guardo esse privilégio, normalmente reservado a abnegados cientistas, como mais uma relíquia que o jornalismo me deu.


No janeiro seguinte, conforme biólogos do Projeto Tamar, amáveis guardiães daquelas criaturas, centenas de tartaruguinhas recém-nascidas correriam pela areia na direção do mar, atendendo ao chamado da natureza. Aquela natureza da qual falava o filósofo seiscentista.


Tartaruga gigante durante desova em praia da ilha de Trindade/Foto de Pablo Pereira
Tartaruga gigante da ilha de Trindade / Foto: Pablo Pereira

 
 
 

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